segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Novembro Maldito

Novembro foi o mês em que tudo começou. Eu via as coisas erradas acontecerem, lutava contra, mas você apenas ficava em seu lugar, de braços cruzados, deixando a brisa da vida bater em seu rosto. Novembro maldito, eu dizia, e você apenas ria das minhas palavras. Tentava te alertar dos acontecimentos, mas você apenas colocava seu sorriso irônico nos lábios e soltava uma risadinha nasal, fechando os olhos e assentindo. Falsa.
O ar frio parecia congelar tudo, principalmente seu cérebro. Você não era capaz de pensar, não era capaz de ver a verdade. Dizia que vivia, mas nunca acreditei. Viver, para mim, não quer dizer deixar a morte lhe pegar quando quiser. Viver, para mim, não quer dizer ficar parada no mesmo lugar, de olhos fechados e braços cruzados.
Eu sei que você chorava quando estava sozinha, enquanto dizia-se forte para as pessoas, nunca deixando ninguém ver as lágrimas. Lágrimas de desespero. Mas chegou a um ponto em que suas mãos se ataram e você não pôde fazer nada.
Havia um buraco em meu peito. Um vazio que, se aumentasse mais, eu sabia que não agüentaria por muito mais tempo. Quando foi que cheguei a esse ponto? Quando foi que me deixei ser levada pela fraqueza? Fechei os olhos, tentando pensar em algo, mas tudo o que via era você. Você morta.
Um ano de tortura. Não agüentaria mais. E no mesmo dia em que tudo começou tudo acabaria. E aquele mesmo buraco de antes, em meu peito, se encheu de falsidade. Não ligava para isso, queria apenas que o tormento acabasse de vez.
Coloquei meu melhor sorriso no rosto e fui em sua direção. Você estava lá, na minha frente. Seus braços, inesperadamente, rodearam meu pescoço e sua boca colou na minha. Quando nos separamos, seus olhos encontraram os meus e um “te amo” rolou por seus lábios. Não, você não me amava. Eu não era de confiança, como já havia dito várias vezes. Sorriu, tentando parecer sincera, falhando miseravelmente.
Empurrou-me para a parede, fazendo minhas costas baterem com força. Sua boca atacou a minha. Falsidade borbulhava em sua garganta. Cuidado, você pode se engasgar. Os olhos abertos sem amor, sem qualquer sentimento bom. Nunca havia entendido seus jogos.
E foi bem aí que meu peito doeu e eu me deixei levar pelo sentimento mais podre. Retirei a arma do bolso do meu casaco sem que você percebesse. E então um estrondo ecoou e gosto de sangue invadiu minha boca.
Seu corpo caiu no chão. Os olhos não estavam desesperados, não procuravam por vida. Seus pulmões não procuravam ar. Você não queria respirar. Você não queria viver. Você queria morrer.
A morte havia sido o melhor presente que eu tinha te dado. Você queria isso desde o início.
O sangue quente escorria de seu corpo e eu sei que você estava adorando aquela sensação. Você estava adorando morrer. Um sorriso de vitória se desenhou em sua face e seu coração parou.
Agachei-me, acariciando a pele fria de seu rosto. Os olhos vidrados não me davam medo, e sim, pena. Não iria fechá-los. Você não merecia.
Novembro maldito.

Fim.

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